O LIMOEIRO E A BERGAMOTEIRA
O LIMOEIRO E A BERGAMOTEIRA
Cheguei perto do portão para dar
alguns quitutes para as galinhas e escutei um farfalhar de folhas muito forte,
e nem tinha tanto vento para um farfalhar tão forte e expressivo. Abri o portão
e fui até lá para ver.
Fui me aproximando e percebi que
a Bergamoteira reclamava para o Limoeiro:
- Não dá para deixar de se roçar
nos meus galhos? Sou frágil e posso quebrar com esses teus galhos fartos e
fortes.
- Para de reclamar, não posso
fazer nada, estou crescendo, me desenvolvendo mais do que tu, por isso meus
galhos estão se esticando e encostando em ti. Mas não quero te machucar.
- Mas está me machucando, estou
quase me quebrando, não percebe?
- Desculpa querida Bergamoteira,
tu estás linda, tuas flores cheiraram muito pois destes muitas flores e teus
frutos estão vindo vagarosamente. Não quero te prejudicar.
Escutando aquilo, cheguei perto e
percebi um galho com tronco forte, quase grosso, que estava encostando na
Bergamoteira. Levantei um pouco o galho e verifiquei se tinha frutas nele, e
não tinha, os limões ainda quase flor, não resistiram e caíram. Avaliei o galho
da Bergamoteira que estava sendo atrapalhada pelo limoeiro, e estava repleta de
pequenas bergamotas, enquanto que nos outros galhos livres de incomodo, estavam
maiores. Decidi intervir. Peguei o galho da Bergamotreira e mostrei para o
Limoeiro:
- Está vendo, Limoeiro? O teu
galho está vindo viril e forte, mas sem
fruto exatamente por estar encostando na Bergamoteira impedindo-a de se
desenvolver melhor. Mostrei o galho da Bergamoteira pra ele, que me respondeu:
- Ah, senhor, sei que tu queres
paz e ver todas nós, árvores frutíferas crescendo e frutificando muito bem.
Lembre-se que já te dei vários limões deliciosos. O que posso eu fazer?
- Ah, obrigado por vir me ajudar.
Já estou sofrendo há um tempo com esse galho crescendo muito e eu não consigo
me desenvolver. Olhe minhas frutinhas como estão esmirradas porque o galho
imenso do Limoeiro está sobre mim. E quando tem vento, piora, porque suas
folhas são bem fortes, duras e derrubam minhas frutas ainda pequenas.
- Fiquem tranquilas, vou dar um
jeito. Olhei novamente e percebi que boa parte do galho do limoeiro não tinha
brotos novos e nem flores. Então falei com
ele:
- Limoeiro, tu vais sofrer muito
se eu cortar uma parte do teu galho que não tem galhos novos e nem floresceu, e
é ele que está atrapalhando a Bergamoteira?
- Ah, meu senhor, não queria
perder nada de mim, mas se for para ajudar, colaborar com a frágil
Bergamoteira, e deixá-la se desenvolver e lhe dar grandes e deliciosas
bergamotas ponkan, eu permito que me corte, ou melhor, que venha me podar.
- Obrigado querido vizinho
Limoeiro. Estamos muito próximos e tu estás se desenvolvendo muito rápido, mais
do que eu e a Laranjeira de umbigo logo
ali, sem ninguém para impedi-la de crescer, não cresce, mas frutifica lindas,
enormes laranjas suculentas.
- Fico feliz em ver que se
entenderam. Em paz conseguirão viver melhor e fornecerem deliciosos frutos.
- Vou lá buscar o facão ou a
tesoura de poda. Aguardem, já volto.
Eles ficaram conversando enquanto
eu me afastava.
Quando voltei eles estavam
conversando como era prazeroso encher de flores perfumadas e depois sentindo
essas flores transformando-se em frutos que se desenvolviam e tornavam-se
frutos prontos para serem consumidos.
– Nossa missão está cumprida
quando colhem , com prazer, com carinho e satisfação, nossos belos frutos que
demoramos tantos meses para torná-los comestíveis e saborosos.
- É, realmente, vocês produzem
deliciosos frutos. Por isso, vou cortar, com muito cuidado teus galhos,
Limoeiro, nada vais sentir, nem falta deles vais ter, porque apenas cortarei o
mínimo possível para deixar a Bergamoteira respirar e se desenvolver..
Eu cortava e conversava com o
limoeiro:
- Lembras que vim te acudir alguns
meses atrás porque o Louro estava fazendo a mesma coisas contigo, e olha que o
Louro é bem maior, bem mais velho.
- Claro que lembro, por isso te
dei muitos limões para fazeres tuas caipirinhas que tanto gostas.
- Deliciosas caipirinhas
Limoeiro. Cortei os galhos do Louro sem interferir também no seu
desenvolvimento, até mesmo porque, ele já é idoso, tem mais de quarenta anos,
enquanto que tu tens apenas quatro anos e é o teu segundo ano de produção.
O Louro movia seus galhos
respondendo àquela conversa:
- Não senti a retirada daquele
galho grande, com muitos galhinhos cheios de folhas novas e viçosas, porque
sabia que irias usá-lo para distribuir para as pessoas e fazer o bem para elas
com minhas folhas medicinais.
- Obrigado velho e esplendoroso
Louro, por tanto que me tem dado e permitido que doe para tantas pessoas.
- Limoeiro, esse galho que estou
retirando de ti, não vou usá-lo, mas não fiques triste, ficastes com muitos que
estão se desenvolvendo lindamente. Estás uma árvore linda, cheia de vida e logo
logo repleta de maravilhosos limões-taitis que degustarei com muito prazer.
Acabei o corte, tirei o galho de
perto dele, coloquei no outro lado do pátio, que era reduto das galinhas, mas
elas não se interessaram pois tinham espinhos e o sabor cítrico não era bom ao
paladar delas.
Peguei o facão, olhei para as
árvores que agora conviviam bem lado a lado sem nenhumas se intrometer na vida
da outra, embora estivessem compartilhando o mesmo pátio e fossem vizinhos
muito próximos.
Caminhei até o outro lado do
Limoeiro pois o Figo estava em franco crescimento.
- É limoeiro, aqui teus galhos
não estão tão grandes, ainda não estão atrapalhando a figueira. As folhas da
figueira recém se desenvolviam, e o limoeiro não era problema no momento.
O Limoeiro se empavonou todo,
farfalhou suas folhas, seus galhos se ondulavam por um ventinho ameno. Todos
seguiram felizes em suas vidas felizes por terem alguém para cuidar delas e
saborear suas deliciosas frutas.
Quando estava chegando perto do
portão, seguidos pelas galinhas pensando que iriam sair daquele pátio para se
aventurar em outros quitutes, escutei a Bergamoteira com seu farfalhar suave,
delicado me gritar:
- Obrigado, estou tão aliviada
agora. Balançou um galho que tocou levemente em outro galho do Limão e lhe
disse: - Obrigado, Limão, fostes muito gentil em permitir que podasse teu
galho. Não fostes egoísta nem encrenqueiro. Obrigado, assim vamos ter uma bela
convivência e frutificarmos muito bem, cumprindo nossa missão.
Sorri e acenei para eles. Fechei
logo o portão para as galinhas não se esgueirarem e fugirem, pensando: - Caso
resolvido!
JOSÉ FERNANDO MENDES – 16h49 –
15/11/2025
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