O QUE FALARÃO DE MIM!
O QUE FALARÃO DE MIM!
Estava eu desta vez preparando o
almoço, e não lavando a louça como sempre acontece as ideias me ocorrerem, veio
em meus pensamentos os falatórios das pessoas sobre o Papa Francisco que faleceu
semana passada, e assim como todos que morrem, principalmente famosos os
comentários acontecem aos borbotões, bons e ruins, bondosos e maldosos,
interessantes e idiotas, mas acontecem, não importa quem tenha morrido, nem
como morreu, mas falam. Dos famosos fica-se sabendo mais pois estão nas redes
sociais, isso que eu leio apenas facebook, e já nem dou conta de tanta coisa
para ler. Leio alguns pois sao centenas. Leio mais pela curiosidade de ver
exatamente a disposição das pessoas em falar algo da vida de alguém que não
mais está aqui para se defender. E nem precisa, pois quando morre, viram
santos. Isso serve para todos.
A verdade seja dita, e algo me
pergunto e sempre me perguntei: por que as pessoas costumam endeusar, suavizar,
amenizar e transformar as pessoas que morrem, principalmente quando estão
diante do corpo estirado num caixão, com as mãos cruzadas – por que as colocam com
as mãos cruzadas e às vezes até com os dedos entrelaçados como se estivessem
orando, rezando? Se muitos nunca nem pensaram em orar, em conversar com Deus
durante suas vidas, e uma grande maioria nunca se deu ao trabalho de pensar que
Deus existe! – mas lá está o defunto e as pessoas indo com olhar – já preparado
com antecedência - pesaroso, chorosos, mas sabe-se lá onde estará o pensamento
de cada um ao olhar para a pessoa que se foi – para onde não se sabe, mas o
corpo está ali, a carcaça já não serve para mais nada, de seus olhos nada mais
será visto, pois estão fechados, lacrados para as belezas que a vida
proporciona ver; a boca já não mais beijará ninguém; nem sua voz será emitida
palavra alguma para consolar, ajudar, ou excomungar; assim como os braços nao mais
acalentarão outras pessoas; suas pernas nao mais irão para onde ela quis ir e
foi; seus ouvidos não mais ouvirão notas musicais e nem a voz dos entes
queridos dizendo-lhe que a amam ou a odeiam.
Tudo isso, e muito mais, se passa
na cabeça das pessoas quando chegam perto do caixão com o corpo abandonado pelo
espírito e pela alma que já foram ao encontro de Deus esperando o seu retorno
em outra carcaça – ou não, dependendo da crença, da religião que pratica. Elas
pensam, a maioria, creio eu, no quanto aquela pessoa foi boa, o quão cedo está
indo embora, e as lástimas, os choros e os comentários são todos, naqueles
momentos, naquelas horas que ficam envolvidos numa cerimônia de despedida, não
do morto, porque ele já não mais está ali, mas das pessoas que querem se
mostrar, demonstrando sentimentos que nunca nutriram realmente por aquela
pessoa morta, pois mal a conhecia, mas está ali porque conhecia algum parente e
assim, foi prestar condolências para confortar quem ficou.
Quem fica não precisa conforto de
pessoas estranhas, quem conforta são os familiares e amigos mais íntimos. Nesse
momento não se quer ver ninguém, não se quer falar nada, muito menos escutar
palavras torpes, voláteis e da boca pra fora. Mas, pelo contrário, o que mais
se ouve e vê são pessoas cochichando pelos cantos, falando aos sussurros e com
olhares para todos os presentes como se estivessem indagando o sentimento,
buscando algum acontecimento diferente para poder comentar e já fazer um fuxico,
um boato ali mesmo. Tudo com todo respeito ao que o momento exige.
Por que o momento de velório
exige choro, lástima e relembrar memórias, fatos ocorridos com o morto, quando
em vida não se viam, não se falavam, não se importavam, e agora ele faz parte
da vida eterna, foram amigos inseparáveis e o colocam num pedestal como sendo a
melhor das pessoas na face da terra, mas enquanto vivia valor algum lhe atribuíam?
Coisas dos humanos que só merecem ser chamadmos humanos por terem um corpo,
pois nem alma e espírito decentes tem.
Isso tudo foram divagações, que
me acometem por anos a fio e sempre que alguém morre penso nisso. Então me veio
à mente: O que pensarão de mim? O que falarão de mim quando eu estiver alí
estirado, mumificado, monstrificado para todos chorarem por mim, todos me
olharem e dizerem sinceramente e verdadeiramente que lindo que ele era, que
bela pessoa ele era, que personalidade forte ele tinha, quanto talento ele
tinha, e assim tantos elogios e adjetivos encontrarão para me denominar; mas
muitos gostariam de estar a dizer, porém não dizem em respeito e por não
acharem correto: ele era uma pessoa egoista, só pensava nele, ele era mal
educado, o sincericídio dele incomodava demais. E eu alí, estirado sem nada
receber, sem nada entender – não sei, talvez o espírito ainda esteja por ali,
rodeando e analisando cada uma das pessoas que estão comentando se é real, se o
que dizem e pensam é de coração é sincero – ai, ai, ai, daí vai complicar se
não for -.
Já comentei com quem convive
comigo, não quero choro, nem velas – as velas servem para iluminar o espirito e
o conduzir, mas os espiritos não precisam de velas, isso foi coisa de pessoas
que criam dogmas e doutrinas e cenas que não correspondem à realidade -, nem
caixão, nem ser cremado, - gostaria na verdade de ser doado para estudo, que
cortassem cada pedaço do meu corpro para estudarem para chegarem a alguma
conclusão sobre minha carcaça, porque sobre meu espírito e alma jamais ninguém
conseguirá decifrar, nem eu mesmo. Gostaria de ser então enterrado, coberto por
uma terra, direto na terra, e nu, completamente nú, sem roupas, porque não
nascemos com roupas, as roupas servem para cobrir a nossa vergonha e quanto
mais cara a roupa mais vergonha a pessoa tem, porque precisa pagar caro para
tê-la coberta.
Enfim, não quero hipocrisias, não
quero mentiras no meu momento final diante das pessoas. Não quero choro, quero
alegria, quero música, muitos livros, pessoas lendo o que escrevo, fazendo um
sarau com meus escritos.
Os pensamentos chegam, brotam,
tantas palavras mais a dizer, mas cansei de digitar. Vou ficar por aqui. Espero
que concordem com tudo que escrevi pois penso assim. E vocês, o que pensam
sobre isso? Estou certo ou errado ou mais ou menos?
JOSÉ FERNANDO MENDES – 28/4/2025 –
16h04
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