UM DIA FUI ASSIM...
UM DIA ANDEI ASSIM...
Indo hoje buscar o jornal, vi e
senti algo nada pessoal, mas tem acontecido comigo e com todos nessa idade e
estão vivendo alguns anos a mais do que muitas pessoas que andam pela cidade.
Meu pensamento veio em uma frase
UM DIA TAMBÉM ANDEI ASSIM, olhando para um homem, logo mais adiante duas
mulheres e assim como para várias pessoas que meus olhos alcançavam para
avaliar o que estava sentindo e vendo: todos com roupas como se fosse já verão,
camisetas mangas curtas, bermudas, roupas mais à vontade, de quem não estivesse importando-se com aquele ventinho suave, brando, mas levemente frio que me fez
colocar, também uma manga curta, mas o corpo, devido à idade, exigiu que
vestisse um casaco de abrigo, além de uma calça, trocando a bermuda que, vou
vesti-la quando e se o sol aparecer e o ventinho ir embora para hoje não mais
voltar.
Essa frase ficou nos meus pensamentos enquanto não chegava até o local onde pego o jornal diariamente para ler e comecei a viajar – como sempre faço – com a minha inspiração a aflorar, criando sequências diversas para essa frase: - Um dia também andei assim sem roupa (não nu, apenas em casa, se pudesse, mas sem camisa) em dias nem tão quentes, porque o fulgor da juventude invade nosso corpo e nos faz transbordar de calor, mesmo não sendo verão; - Um dia também andei assim com os pés descalços não importando qual piso estaria pisando, mas sentindo aquele gelume penetrando pela sola do pé chegando até à raiz do cérebro (cérebro tem raiz? Pra mim, nesse momento tem) e fazendo meu corpo todo estremecer, mas seguindo em frente e enfrentando aquela sensação que não importava se pudesse trazer-me consequências, pois queria usufruir daquele momento de liberdade e andar na areia molhada, úmida, gélida, sentindo seus grãos massageando a sola dos meus pés e dando-me uma alegria de poder estar em contato com a natureza. Ou sobre a terra, sobre a grama, com a mesma sensação.
Hoje não mais posso fazer isso, a
menos que realmente seja uma areia que esteja exposta ao sol por muito tempo e
não mais gelada. Então, antes de colocar os pés, coloco a ponta do dedão do pé
para sentir, para perceber o calor e a possibilidade de me expor àquela
maravilhosa sensação de contato com a natureza. A mesma sensação mas não o
mesmo prazer é ter contato com um piso cerâmico, pois não faz parte da
natureza, mas causa aquele frescor, porém perigoso, de algo gelificante explodir
no meu cérebro e no meu corpo. Hoje não mais consigo fazer, sempre ando de
chinelos no verão, nem o contato com tapetes me deixa à vontade, pois com a
idade, vai-se pegando certos costumes e manias que tudo pode agoniar, tudo pode
incomodar e nos deixar indispostos, embora raramente sinta-me indisposto, e
caso sinta-me assim, imediatamente dou um chega pra lá e sigo em frente.
Um dia andei assim – continuando meus
devaneios – com roupas que nem todos aprovavam e até mesmo olhavam-me, porém
não era isso que incomodava, pois sempre andei como sempre quis, procurando
vestir roupas bonitas e confortáveis, pelo menos no meu modo de pensar pois era
referência pelo modo de ser e andar. Sempre usei roupas combinando com sapato,
com meias e cores. Hoje, uso as roupas como quero sem pensar se estou
combinando, se estou certo ou errado. Hoje ainda continuo pensando e tentando
manter o senso do ridículo, não para os outros, mas para mim mesmo. Gosto de
olhar no espelho e me ver decente e apropriadamente bem vestido conforme a
ocasião. Embora nem sempre o que eu penso seja a realidade. Mas, não to nem ai.
Hoje se vou usar o que bem quero
vou ser taxado de gagá por ser velho, embora a isso pouco me importo pensando
sempre no meu conforto. No entanto, para não causar tanta comoção pela maneira
de velho vestir-me, querendo ser e mostrar que jovem ainda sou – tamanha e
frustrada ilusão – para não acabar tornando-me motivo de chacota para esses que
um dia também o serão, velhos e fazendo a mesma coisa, pois isso já faz parte
da vida de quem um dia andou como todos andam para não serem criticados e muito
menos banidos de uma sociedade, de um circulo de amizade, que nem sempre são
sinceros, querendo te levar a ser como todos: iguais. Quem diferente é, não
importando a exclusão, vai ser motivo de risadas, piadas e muita falação.
Nunca me importei com nada que
pensassem de mim, mas um dia eu fui assim, na minha juventude, querendo ser
igual a todos, fazendo tudo o que os outros faziam, usando e falando como todos
usavam e falavam. Graças a Deus foi por pouco tempo. Logo dei-me conta que não
queria ser igual a todos, muito menos fazer o que faziam, pois nunca fui Maria
Vai Com As Outras, sempre tive minha personalidade inabalável, sem pensar se
seria acolhido ou descartável, mas vivia do meu jeito.
Um dia fui assim sonhando em ser um grande médico pediatra para poder curar crianças da doença que eu tive aos dois anos e meio e o Dr. Gilson Fontoura curou-me. Não sei até hoje que doença seria, mas pelos comentários que minha mãe constantemente fazia de tão mal que fiquei, e desenganado pelo médico, foi uma infecção intestinal, daquelas de matar mesmo, fatal. Muitas crianças minha mãe viu morrer no hospital da mesma doença, mas a esperança e a fé, mesmo não ter sido religiosa, de ir à igreja, sua fé em um Deus que cura, ela me colocou em Suas mãos, e eis-me aqui até agora. Não formei-me em medicina, não consegui ser médico, mas Deus me encaminhou para uma função que poderia e consegui fazer o que sempre quis: ajudar pessoas.
Fui professor de Inglês sem nunca ter feito um curso de inglês,
mas falava fluentemente pois aprendi por minha conta e desenvolvi a fluência
com um chefe engenheiro que me obrigava a falar somente em inglês com ele (por
isso era um professor exigente com meus alunos); Fui professor de contabilidade
sem ter formação contábil (fiz Administração de Empresas), mas trabalhei mais
de seis anos com contabilidade numa empresa de engenharia. E assim foram se
sucedendo minhas incursões para diversas áreas como professor, sempre recebendo
a benção de Deus que me orientava e mostrava como deveria fazer. Muitas aulas
eu dei sabendo apenas superficialmente o assunto, mas graças a Ele tudo
transcorria bem. Fui professor sem nunca ter feito curso de pedagogia e em
todos as escolas, e foram várias, as supervisoras ficavam admiradas e me
questionavam como eu sabia aplicar todas as técnicas pedagógicas e eu nem sabia
o que era e quais eram.
Minhas aulas nunca foram aulas
tradicionais. Lembrava daquelas aulas de certos professores e procurava
desenvolver de forma diferente. Aplicava muitas dinâmicas e os alunos adoravam.
Nem mesmo as aulas de contabilidade, não eram tradicionais, pois os alunos
simulavam a criação de uma empresa e ali desenvolviam todos os setores,
principalmente a contabilidade. Prática empresarial, sempre.
Amava meus alunos. Era um
professor extremamente exigente, mas ao mesmo tempo os acolhia, os abraçava, interessava-me por cada um, tanto que os encontro e lhes comento sobre até o que
dizíamos. Isso porque eles eram e ainda são muito importantes para mim. Não era
um trabalho, era uma missão. Deus me deu uma missão e eu a cumpri com total
dedicação, amor, carinho.
Um dia eu fui um escrevedor de palavras de tudo o que eu sentia e pensava. Quando não estava legal, pegava uma folha e um lápis, afastava-me de tudo e de todos e começava a escrever sem nem saber o que, mas escrevia até cansar e meus pensamentos começarem a fazerem-me sentir o coração batendo normal, aquela angústia ou tristeza, ou sei lá o que era na época, afastavam-se. Eu escondia o papel e ia fazer outra coisa.
Hoje
voltei a ser um escrevedor com mais conhecimento da palavra escrita, com mais
experiência de vida, mas nada disso importa na hora de escrever, porque o que
fala e manda, e é bem mandão mesmo, é o coração com meus pensamentos. Assim é
minha inspiração, deixando-me levar por tudo e com tudo que escrevo. Assim está
sendo com este texto, que comecei com uma ideia, e acabou transformando-se num
desabafo, mostrando-me para quem quiser conhecer-me um pouco mais além do que
já me mostro, como... um dia fui assim...
JOSÉ FERNANDO MENDES
(escrito em 03/10/2024 – 13h32)
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