ENCANTAMENTO MATINAL
ENCANTAMENTO MATINAL
Hoje acordei com uma preguicinha
gostosa, vontade de ficar na cama, curtindo aquele barulhinho da chuva sobre o
telhado; mas como não sou acostumado a ficar muito na cama, mesmo sem ter
necessidade de levantar, acabei levantando, me vesti, e ao abrir a janela para
ver o dia que, mesmo chuvoso, sempre é esplendoroso e tem algo a nos mostrar,
vi uma revoada de diversos pássaros bem perto da minha janela, pois tem, na
minha rua, muitas árvores, que eles, os pássaros adoram revoarem e fazerem a
sua festa particular se aproveitando e se exibindo desse dom maravilhoso que Deus lhes deu de poderem voar, irem a todo e qualquer lugar, a toda e qualquer
altura, conforme a sua vontade, sendo que para nós, seres humanos, nos deu a
capacidade de voar em pensamentos e imaginação, assim como estou viajando nesse
momento, e naquele momento que vi aqueles belos pássaros: Bem-Te-Vi, Sabiá,
Pardal e mais uns dois tipos que não consegui identificar, tamanha era a revoada
e a gritaria que faziam. Fiquei encantando pelo chilrear de todos eles, em alto
e bom som, fazendo piruetas, batendo as asas forte e delicadamente para
conseguir vencer a chuva que se apresentava intensa, mas eles, na total
simplicidade e capacidade de superar toda e qualquer tempestade que aconteça,
faziam a festa. O encantamento continuava até que um Bem-Te-Vi adulto e macho,
pela sua plumagem colorida pousou no fio que liga a minha casa ao poste que nos
dá energia e ali ficou por um bom tempo, observando seus amigos a voarem de
forma magistral e encantadora, e eu a observá-lo e a conversar com ele, como se
ele estivesse a me ouvir, mas isso não importava, porque só queria mesmo é
passar pra ele o quão bem ele estava me fazendo ao ficar perto de mim. O tempo que ele ficou foi
o suficiente para que eu pudesse tirar minhas conclusões sobre ele; e ele se
exibindo para mim. Parecia estar sentindo minha presença na janela, bem próxima
a ele. Assim ficou, estático, apenas, de vez em quando sacudindo as lindas
penas para tirar o excesso de água se acumulava sobre elas. Pude ver um pássaro
já adulto, com domínio total e absoluto de suas capacidades e poder, pois assim
demonstrava por sua postura e sua tranquilidade de ficar parado por tanto tempo
– sim, segundos e minutos são muito tempo para um pássaro porque não é
características deles ficarem parados, eles estão sempre dispostos e
predispostos a se mexerem, voarem, explorarem os céus para onde quiserem estar,
com total liberdade – e ainda, sendo observado – eles percebem, assim como nós
percebemos quando alguém nos observa -. Seus olhinhos mexiam-se buscando não
perder nada do que seus amigos faziam – foi um longo tempo que ele ficou
parado, que até isso deu pra ver – e num instante um Barreirinho, João de
Barro, fêmea, pousou no muro bem à frente da minha janela, que fica a dois
metros, deu umas beliscadas nos tijolos e nas ervas daninhas que deles surgiam,
e imediatamente alçou voo para juntar-se a seus outros companheiros que
revoavam incessantemente.
E o Bem-Te-Vi ali, fazendo-me companhia, dando-me força e energia para fazer do meu dia mais um dia
revigorado pelo que ele tinha me proporcionado. Então, assim como pensei sobre
o prazer que ele estava me dando de o estar observando, ele ergueu suas asas, mostrando
todo seu belo peitoril de penas bem amarelas, mexeu a cabecinha de um lado a
outro e, como a se despedir de mim, alçou um voo lento, não mais como os outros
faziam, mas assim, lentamente se foi, como se estivesse me dando um até logo e
dissesse-me que eu ficasse em paz porque assim eles também estavam, mesmo com
toda aquela chuva, porque tudo eles superam, tudo eles aguentam. Assim é a vida
deles e assim é a nossa.
Fechei a janela,, pois a chuva já
estava mais forte e começava a molhar minha roupa. Antes de sair da janela,
olhei em busca do saber o que estavam fazendo, e já não os vi mais, pois agora,
estavam indo para outra aventura, e quem sabe, outra pessoa que os observasse,
os admirasse e fizesse do seu dia o mais feliz por fazerem do seu dia, eles
como referência. Dei as costas para a janela e fui preparar meu café da manhã,
deixando a magia do que presenciei ficar no meu pensamento e dando-me a energia
necessária para o resto do dia.
(escrito em 23/05/2024 – 11h25)
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