CALOR
Essa sensação de corpo quente, cabeça quente, tudo quente nos deixa sem ânimo pra nada, a menos que estejamos em algum lugar com refrigeração artificial, porque natural está difícil, até sob as árvores, por mais frondosas, não conseguem refrigerar esse ar seco, quente que toca em nossa pele e nos faz suar, mesmo não estando no sol. Por mais que tomemos água, muita água, parece que nunca é o suficiente, porque assim como a sorvemos, ela é expelida pelos poros, como forma de nos manter refrigerados e não nos deixar entrar em colapso.
Prefiro o inverno, porque basta nos agasalharmos ou nos mexermos - dizia para meus alunos: pra passar o frio é só trabalhar, eles me xingavam e diziam que eu só pensava em trabalho - mas é a pura verdade, a partir do momento que começarmos a fazer algo que já nos esquentamos e até vamos tirando o excesso de roupas. Enquanto que no verão, quanto menos roupa melhor, quanto mais próximo de uma piscina, ou do mar, ou de um rio, ou até mesmo um recurso bem caseiro, um chuveiro, para nos aliviar aquele fogaréu que nos faz incendiar por dentro e por fora. Tem também o ar condicionado, que é um ótimo recurso em qualquer ambiente, embora seja oneroso, mas deixa o ambiente super agradável. Os shoppings nessa época são lotados, mas as vendas não são tão elevadas quando deveriam ser, porque tem muitas pessoas que vão passear para aproveitar o frescor.
O calor nos faz pensar menos, nos faz cansados e estafados, sem vontade de fazer nada, e viver por nada. Até falar cansa, esquenta e nos faz suar - melhor ficar calado - coitados dos falantes de carteirinha - e assim, mantermos o corpo numa temperatura que nos faça mais confortáveis e sujeitos a odores desagradáveis, que nessa época imperam e preponderam nas pessoas. São raras as pessoas que não exalam odores, e tem aquelas que não se dão conta que estão cheirando mal. O suor por si só já nos deixa com cheiros, nem sempre desagradáveis, mas não é o mesmo que temos em dias normais, pois ao suarmos estamos expelindo sujeiras dos poros que estão expostos ao tempo, ao ar poluído. Até abraçar alguém, é constrangedor, pois estamos suados, as roupas molhadas, tudo suado, e o contato com a pele fica inconveniente e até meio indesejável, por mais que queiramos abraçar, nem sempre é recomendável.
Como o calor do verão faz parte de uma etapa do ano, que vem e vai, assim como todas as outras estações, então devemos aceitar e parar de reclamar. Faz parte da vida. Sentiu calor? Faz algo para que passe, ou amenize. Tome um banho, liga o ventilador, ligue o ar, vai para piscina, vai para a beira da praia que seja rio ou mar.
Ah, mas não tenho nada disso! Então pare de se lamuriar e vai tomar banho de mangueira - que delicia a gurizada toda tomando banho de mangueira, fiz isso com primos, amigos na minha infância e depois com meus filhos - que te refresca e depois fica numa sombra para manter por mais tempo esse frescor.
Temos também nessa época de verão escaldante as famosas chuvas de verão, que são pancadas fortes, intensas e demoradas que refrescam o ambiente, e podemos tomar banho de chuva, sentir aquela água vindo da natureza, e nos encharcando, aliviando o calor forte que estava derretendo nossos corpos e agora podemos usufruir dessa beleza que cai forte sobre nossa pele, sobre nosso rosto e assim pulamos de alegria, nos divertimos ao curti-la, como se estivéssemos prestando homenagem - e é uma homenagem mesmo -, como se fosse uma dança de agradecimento que fazemos, quando corremos de um lugar a outro, quando saímos pulando aproveitando ao máximo as jorradas, os tufões de água nos invadindo completamente nosso corpo e nos deixando novamente em paz, pois o calor, aquela sensação de estar torrando por dentro, amenizou, sumiu, pelo menos momentaneamente, e , por isso mesmo, devemos aproveitar - eu aproveitava muito as chuvaradas, brincava muito e ainda ia para baixo das calhas para pegar mais forte, como se fosse uma cachoeira, sem perceber que a água vinha das telhas cheias de sujeira, mas, o que isso importava? A farra era tremenda, pisotear nas poças de água e ficarmos com barro até na cabeça, e quanto mais sujo melhor era, mais chuva queríamos, mais brincadeira teria. Depois entravamos e tomávamos banho de chuveiro, trocávamos de roupa e ficávamos curtindo e dando gargalhadas do que aprontamos.
Tempo bom. Hoje não faço mais isso, se pegar essa mesma chuva que me refrescou, ela vai me deixar doente, porque a resistência que tenho, assim como todos com o passar dos anos, vai perdendo, e já não pode se expor excessivamente a certas coisas. Nem mesmo para a maravilhosa chuva que outrora me acolheu e me divertiu intensamente. Mas quem pode deveria aproveitar. Deveria curtir. Mas não se vê mais isso. Não se vê mais essas brincadeiras inocentes, não se vê mais pessoas curtindo por curtir - certa vez um vizinho falou para outro vizinho que eu era um idiota brincando na chuva com meus filhos. Não dei a mínima, continuei fazendo isso sempre que podia. Idiota é quem não faz. Devemos crescer, mas sem, jamais, deixarmos de ser crianças.
Escrevendo até passou o calor, embora esteja digitando fervorosamente, mas o pensamento não esta mais focado no sentir calor e sim no escrever sobre o calor. Tudo é foco. Não passou, ainda estou sentindo calor, mas já aceitável, por isso vou parar por aqui e tomar uma chuveirada, - quem dera fosse uma chuvarada, acho que hoje encararia - de água não gelada, mas fria. Até mais!
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