TEMPESTADE
TEMPESTADE
O dia todo hoje, e de
alguns dias – está começando a ficar corriqueiro, normal – foi de muita chuva:
chuva mansa, chuvisco, chuvarada com vento, sem vento, chuva com sol (casamento
de espanhol), sol com chuva (casamento de viúva). Quanta besteira, quanta
ingenuidade temos quando se é criança e tudo é motivo de risadas, gargalhadas
até bobagens como essas quando aparecia a chuva com o sol era uma rima, sol com
chuva era outra, e há uma diferença entre essas duas situações: chuva com sol é
quando está chovendo e de repetente uma nuvem se descuida e o sol se faz
presente, embora tímido, mas aparece com seus raios, fracos mas se mostrando
que está tentando se posicionar mas as nuvens não permitem, por isso é casamento
de espanhol porque as nuvens está atrapalhando a festa de casamento, mas ela
continua, porque espanhol é teimoso, persistente e sempre procura seu lugar,
assim como o sol; e temos o sol com
chuva que acontece quando o sol está lindo, mostrando-se todo garboso e convencido
de que ele é o soberano e dono da situação, e do nada surgem aquelas nuvens
negras, mal intencionadas querendo atrapalhar, dando um ar de tristeza à alegria
que o sol está transmitindo para as pessoas, e assim invadem o espaço mandando todo
tipo de chuva, com o propósito de atrapalhar, de interromper qualquer coisas que seja, desde que seja, algo
bom, por isso se diz, na brincadeira, casamento de viúva, que é uma alegria por
estar casamento novamente, mas não é total e absoluta pois se é viúva, uma
mancha, uma nódoa está pairando, assim como as nuvens carregadas de chuva. Mas
a chuva é algo bom, ela vem para lavar nossas almas, aguar nossas plantas,
limpar nossos corpos, massagear com seus pingos fortes e constantes nossos
corpos quentes, estorricados pelo sol. Até agora são apenas divagações do tempo
de criança. Coisa que faço sempre, porque me enche o coração e minha mente de
nostalgias de um belo tempo que não volta mais, apenas nas lembranças e
recordações que faço questão de tê-las.
Pois bem, dias e dias
de chuva, com várias precipitações, nos impedindo de realizar tantas coisas que
precisamos, porque a chuva nos tolhe a capacidade de realizar certas atividades
que são necessárias, mas também nos permite ter momentos que, muitas vezes, não
os temos porque nos dispersamos e nos ocupamos com outras coisas, mesmo que
necessárias, importantes, prioritárias, as quais poderíamos dar um tempo e
fazê-las depois, mais tarde, outro dia, mas a vida nos conduz a isso: fazer,
fazer, fazer, ocupando todo o tempo sem ter tempo para ser, para estar. A chuva
nos dá uma sensação de acolhimento – isso quando ela é básica, mansa, sem
grande turbulências – que nos dá vontade e ânimo de cozinharmos algo que nos
lembramos de algum momento – eis o maior exemplo que é o Bolinho de Chuva (o
que eu faço é maravilhoso, modéstia à parte); nos dá vontade de lermos livros
agradáveis com estórias e histórias que nos levam a viajar a lugares recônditos
e só nosso; nos dá vontade de conversarmos com pessoas, jogar cartas, jogar
conversa fora, ou simplesmente estarmos com alguém; nos dá vontade de nos
deitarmos num sofá – nesse momento é o sofá que vai acolher melhor do que a
cama, porque a cama é para dormir enquanto que o sofá vai servir como divã,
pois vou começar olhando pra dentro e acabo dormindo, tirando uma soneca sentindo,
escutando aquele tamborilar dos grãos da chuva; mas, a chuva também nos dá,
algumas vezes, a vontade de ficarmos sozinhos, olhando para dentro de nós
mesmos e não querermos mais nada além disso. Nesse caso, a chuva é uma
tempestade terrível que vem para massacrar, invadir tomando conta de tudo que
há de bom em nossas vidas – assim como essas enxurradas tem feito em tantos
lugares, arrastando casas, móveis, carros, alimentos, pessoas e devastando a
vida de tantos que conseguem aos poucos obter coisas para conseguir ter uma
vida com dignidade – assim acontece com a nossa vida espiritual, com nossos sentimentos
que ficam presos a tempestades de horrores incompreensíveis e infindáveis. É o
desafio da natureza para nós seres humanos.
As tempestades vem para
levar tudo de bom que as pessoas tem, até mesmo a dignidade, tanto material,
quanto física e principalmente mental. Difícil passar ileso às tempestades que
nos invadem e querem acabar com nossas vidas. Difícil não reagirmos com revolta, com
desespero, com uma infinidade de sentimentos nada bons, muitas vezes ruins
mesmo, pois os trovões são ensurdecedores para conseguirmos suportar suas
batidas em nossos corações, em nossos ouvidos, que não adianta nem mesmo
tentarmos tapá-los para não escutá-los, eles vem e não se importam que não os
queremos, eles vem e nos faz sentirmo-nos acuados e completamente tomado pela
total incapacidade de sermos alguém digno de ter uma vida legal e assim nos
colocamos à mercê do propósito ao qual eles vieram, par anos atormentar e nos mostrar
que não somos nada.
Além dos trovões, que
nos atormentam, temos ainda os raios e relâmpagos que os acompanham numa dupla
que se uniram para nos causar mais temor ainda e sentirmos mais na pele, no
corpo, no espírito e na alma a intranquilidade de não saber quais as consequências
teremos que suportar. Os raios riscam o céu de nossa alma, de nossa vida e nos
fazem ver, em segundos que resplandecem de um lado a outro nos causando um medo
tão forte que ficamos estagnados sem saber o que fazer, nem pensar conseguimos,
tamanho o medo de algo vir a acontecer – minha mãe tinha o costume de fechar
janelas, venezianas, cobrir espelhos com toalhas e lençóis e não deixava
ficarmos, eu e meus irmãos perto das janelas, para que não viesse um raio que
era muito perigoso -, Hoje a época é outra, temos para-raios que nos protegem,
que não permitem que cheguem até nós, mas naquela época tinham razão, mesmo na
santa ignorância do porquê, mas faziam e dava certo.
Trovões, raios e ventos
fortes, muitas vezes com granizo – pedras de gelo que nos assustam e nos faz
esbugalhar os olhos e buscarmos proteção e abrigo, esteja onde estejamos- são elementos constantes de tempestades, que são
manifestações violentas da natureza e vem para nos mostrar o que estamos
fazendo com ela. É uma manifestação de rebeldia ou de protesto? Acredito que seja
os dois motivos, porque nós pensamos apenas em explorar a terra, sem nada
devolvermos a ela, pela própria incapacidade de sermos pessoas que nem nos
aceitamos como somos, que não se conhecem em sua plenitude como ser humano, que
vive em conflito consigo mesmo e se destrói pouco a pouco na ânsia de ter, ter
e ter, esquecendo-se de ser, ser e apenas ser.
Quando a tempestade
chegar em suas vidas – e vai chegar, com certeza-, saibam que só tem uma
maneira de nos protegermos dela e sairmos ileso de todo e qualquer prejuízo ou
dano. Essa maneira tu deves procurar saber, acredito que já saibas qual é,
basta apenas aceitar e introjetar em tua vida e assim podes ter certeza e creia
que DEPOIS DE TODA E QUALQUER TEMPESTADE SEMPRE VEM A BONANÇA, e quando a
bonança chegar, lembre-se sempre de agradecer.
... a chuva continua,
alternando entre mansa e forte...
(texto escrito em
15/11/2023 – 19h22)
Comentários
Postar um comentário