GÍRIAS

 GIRIAS

Como sempre acontece, quando sento em frente ao computador para escrever no Blog, uma palavra surge no pensamento, às vezes até tento desviá-la do pensamento, mas ela gruda, fixa e não vai embora. Tento pensar em alguma outra, mas ela persiste, ela teima em ficar no pensamento, levanto, saio para fazer alguma coisa para disfarçar que quero afastá-la de mim, mas, ao voltar, lá  está a danada, invadindo o pensamento e me fazendo escrever não sei o que, mas vou escrever. assim aconteceu agora com a palavra GÍRIA, ficou, ficou, ficou e aqui estou fazendo dela a protagonista do dia. Relutei em escrever sobre ela porque nunca usei gírias, nunca gostei de escutar gírias, ou cacoetes, vícios de linguagem, porque considero uma linguagem muito chata, nem tanto vulgar, mas simplória demais.

A gíria é um recurso de linguagem, bem como um vício, um terrível vício utilizado por pessoas que não tem o domínio da língua falada, muito menos escrita e isso se dá pela falta de leitura. As pessoas estão cada dia mais afastadas das leituras, porque preferem o imediatismo da arte visual e áudio que já lhe dá o que ela quer ouvir, sem nem mesmo escutar, mas está ouvindo, sem se preocupar em entender ou não, mas ouve para poder dizer que ouviu alguma coisa e se gabar diante de pessoas, tal como ela, também fazem uso da mesma coisa e nada fica no pensamento, a não ser por alguma horas, por alguns instantes, o suficiente para passar a alguém que escutou isso ou aquilo, mas qual a importância, qual o significado, qual a aplicação do que escutou? Raramente há algo que acrescente, normalmente são vídeos e áudios vazios, inócuos, sem função alguma, a não ser um mero entretenimento rápido, fugidio e oco de qualquer mensagem - alguns até tentam, alguns até se esforçam e até há um resquício de algo a dizer, mas nada que seja realmente aprazível de fixar.

Estou sendo drástico e genérico, mas é assim que penso, sobre esses áudios e vídeos que nos trazem - a mim não, porque me nego a vê-los e ouvi-los, não que seja melhor do que ninguém nem que não estejam no meu nível intelectual, não é mesmo, simplesmente não gosto da linguagem utilizada, das trilhas sonoras exageradas, das gírias e nem da criatividade, e não me dão vontade alguma de dar risadas, nem pensar em algo, simplesmente, não sinto nada, então pra que escutar ou ver?

As gírias estão muito na moda porque elas representam a multidão que não consegue entender e não faz questão alguma de entender algo mais profundo a não ser coisas fúteis, palavras idiotas, chavões absurdos sobre assuntos leves, pois dizem, dando desculpas esfarrapadas, que a vida está difícil, pesada, então preferem isso, pois conseguem dar boas risadas, aliviar a tensão, mas na verdade, pura e verdadeira verdade, é que as pessoas não querem pensar, não querem se cansar pensando. Hoje é tudo no imediatismo, sem perder tempo em nada mais profundo, apenas a superficialidade ganha atenção e os louros, porque cansa, dá sono, enjoa ter que prestar atenção em algo que vai mais além do que escutar ou enxergar. O que precisa ouvir e ver, é muito difícil. O que exige mais tempo para ser lido, visto, ou ouvido já não vai ter sucesso diante dessas pessoas imediatistas, impertinentes e que não querem mais nada além do necessário para poderem dizer que escutaram e ouviram isso ou aquilo. Assim se dá com os livros também. As pessoas não se dispõem mais a ficar algum tempo sentada e pegar um livro para ler, se deliciar, se inundar na profundidade das palavras que os livros nos proporcionam, nos fazem viajar sem sair do lugar, apenas o pensamento se desloca de nosso ser e vai para cenários possíveis na imensidão da imaginação; mas esse é o segredo, essa é a graça é o êxtase da leitura, podemos imaginar o que quisermos com aquelas palavras que alguém escreveu tendo os mesmos insights de pensamentos e viagem como quem lê com tesão de estar lendo, vivendo as palavras que dançam à nossa frente e nos fazendo delirar de tanto prazer. Assim que me sinto quando leio. Mergulho totalmente na história, mergulho absurdamente nos personagens e vivo o que eles vivem, sinto o que eles sentem e isso, após cada final de livro, algo ficou em mim, e faço uso na minha vida com uma sensação agradável de ter lido e ter sido importante para minha vida. Por ser assim, sempre fui desde que comecei a ler, ou seja, desde os 10 anos, mais afoito pelas leituras após os 15 porque já trabalhava e podia adquirir meus livros, é que não me habituei com a tal gíria, que é o emprego de palavras que substituem palavras melhores colocadas que representam o que quero dizer sem usar gírias, palavras que substituem palavras que não se sabe dizer, ou não se sabe o significado - eis o motivo por estarem sendo, a cada dia, mais utilizadas.

Algumas vezes até tentava utilizar alguma gíria, ou termo moderno da gurizada medonha, como sempre falei que eram os jovens, principalmente meus alunos, mas tanto em casa quanto na sala de aula era repudiado, diziam que não combinava comigo essa linguagem; eu mesmo me sentia desconfortável . Então abortava. Mas nunca fui de usar palavras sofisticadas, gosto do português correto e comum, simples, fácil de ser entendido. Tem pessoas que gostam de se mostrar, se exibirem. Nunca gostei disso, cobro e exijo um português o mais correto possível - nem sempre é possível - mas abomino as tais gírias, e não aceitava quando meus alunos as usavam, cortava na hora e descontava pontos nas apresentações e até mesmo nos trabalhos quando escritos. 

Muitas vezes, e a maioria das vezes, as gírias são utilizadas na linguagem falada acompanhada de um gestual que culmina na total degradação do ser humano- que trágico isso, não é? e no assassinato da Língua Brasileira (sempre usava esse termo, porque somos Brasil). As palavras ou expressões que são utilizadas como recurso de linguagem considero como gírias, tais como: TIPO ASSIM (até pode usar aqui e acolá, não o tempo todo como usam, substituam por EXEMPLO), ACHO (detesto o achômetro, quem acha não tem certeza de nada, portanto, não merece crédito algum; que diga ACREDITO, PENSO QUE, CONSIDERO), ÃÃÃÃÃH (nasalado, quando está pensando, melhor ficar em silêncio, porque demonstra que está inseguro ou não sabe o que está dizendo), TÁÁÁÁ( muito utilizado por professores, até pode ser dito de vez em quando para reforçar o chamado de atenção ao que falou e está falando), ENTENDEU(confirmando no final da fala, que seja no final mesmo e não como usam o tempo todo, melhor ficar em silêncio, ou encontrar palavras que tenha certeza quer está falando para não precisar confirmar com o entendeu), SABE(outro recurso no final de frase, para chamar atenção ao que disse), e o pior de todos é o NÉ, que é o mais utilizado por qualquer tipo de pessoa, até mesmo as mais estudiosas, porque é um recurso para finalizar o que disse, e logo começar a falar novamente. Melhor ficar quieto. Algumas vezes até pode ser dito, mas constantemente, como a maioria faz, daí não dá pra aguentar. Já me incomodei com alguns colegas porque os corrigia pelo uso do NE, TÁÁÁ, alguns aceitavam de boa, outros, viravam a cara e perdia o colega. Tive um professor no curso de Pós Graduação, numa cadeira interessante (MARKETING FINANCEIRO), que se tornou massacrante e a mais chata de todas pela linguagem do professor, ele dizia o tempo todo CERTO, PERFEITO, PESSOAL?. Numa aula, anotei das 10h até 12h, ele repetiu 43 vezes essa expressão. Comentei com os colegas e me incentivaram a falar com ele. Falei. Quase reprovei, mas como era um assunto que dominava, não teve como me reprovar. A partir daquela aula, ele mudou o direcionamento dos olhares ao explicar o conteúdo e eu fui excluído dos seus olhares. Diminuiu a frequência, pelo menos isso. O mais legal de tudo, era que, quando meus alunos iam a alguma palestra, outras aulas, eles percebiam esses exageros e até corrigiam a pessoa, mas o único inconveniente era que citavam o meu nome, mas nunca me importei com isso, muito pelo contrário, tinha orgulho por eles entenderem e introjetarem o que havia lhes dito.

Então, ficaram pensando quais as gírias e termos que vocês utilizam no dia a dia? É comum usarmos, mas comece a prestar mais atenção e comece a se comunicar de uma forma mais clara e usando as palavras mais adequadas. Até podem usar alguma ou outra gíria, mas dependendo do ambiente e do momento, até cabe, mas sempre, por falta de vocabulário, melhor ficar calado, mas caso não consiga ficar calado, leia mais, leia tudo, para melhorar o linguajar.


(texto escrito em 27/11/2023 - 16h04)



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