LUTO

Acabei de comer um delicioso lanche - uma torta de frango com uma massa muito aerada e bastante gosto de queijo ralado que fiz no domingo, mas eu gosto mais depois de alguns dias, o sabor fica mais intenso -, e então resolvi ir para o meu computador com o objetivo de escrever o texto de hoje do Blogg; me questionei sobre o que escreveria, visto que já esqueci todas as palavras interessantes que surgiram na mente, mas eu as esqueci, completamente. Sei que foram várias, mas esqueci mesmo – isso penso que é por não ser a hora ainda delas -, e enquanto me dirigia até a sala para ligar o computador, acessei o facebook do meu celular e eis que aparece uma postagem do Fabrício Carpinejar, escritor, poeta gaúcho, maravilhoso como escritor, falando, em vídeo, sobre Luto, que é o livro que lançou ou vai lançar essa semana. Assisti ao vídeo, claro, por gostar do que ele escreve e me veio a palavra LUTO, a qual ele estava falando, coisas interessantíssimas, como sempre, mas eu, como sempre também, vou escrever sobre o LUTO do meu ponto de vista. Poderei até falar algo parecido com o que ele disse e ter escrito em seu livro, mas deixo bem claro: vou escrever o que eu penso e reajo diante do tal luto.

O LUTO, como Carpinejar disse em sua fala que assisti no vídeo, e não é novidade alguma, pois já li e já escutei de outras pessoas a mesma coisa: LUTO NÃO ACABA. Realmente não acaba ficamos para sempre de luto, pois o luto se dá a partir do momento que perdemos uma pessoa, um ente querido, mais precisamente, membro da família. O luto é uma tristeza imensa que toma conta de nosso ser e não nos permite pensar em mais nada, além daquela pessoa; não nos permite ver mais nada nem ninguém, além da imagem daquela pessoa; não nos permite fazer mais nada porque tudo que formos fazer nos remete a lembrar aquela pessoa; e assim em tudo, durante um longo período de nossas vidas isso vai acontecendo até que... Não, não acaba, não esquecemos, não deixamos de ficarmos tristes por saudade; não deixamos de lembrar e ficar no esquecimento. Jamais isso acontece e jamais acontecerá, porque nossos pensamentos estão sempre, mesmo que seja apenas com um breve pensar, fugidio muitas vezes, mas pensamos naquela pessoa que perdemos.

Assim é o luto, e conforme me disseram, dura por dois anos, dois longos anos de forma muito forte, muito intenso, a tal ponto de tomar a vontade de viver – e alguns até chegam a tirar suas próprias vidas ou simplesmente esquecem que tem sua vida para viver, pois nada, nem ninguém mais importa, não se dando conta, tamanha a tristeza que invade de forma avassaladora sua mente, seu corpo, sua alma, seu espirito, que se aquela pessoa se foi é porque já estava na sua hora de ir. Como já falei em outro texto, acho que MORTE, todos nós estamos aqui de passagem e com uma missão a cumprir e, sendo assim, um dia vai chegar a nossa hora de partirmos até nos encontrarmos de alguma forma.

Nesses dois anos de luto, muitas pessoas deixam de viver suas próprias vidas, pois ficam embriagados pela falta de quem se foi e não faz mais parte do seu convívio. À medida que o tempo vai passando, o luto não sai da pessoa, não abandona e jamais vai abandonar, ele vai continuar existindo, mas as pessoas vão se permitindo deixar a vida continuar e com uma nova perspectiva, mesmo que sempre comparando como seria se a pessoa que se foi, estivesse junto, estivesse presenciando, estivesse participando. É super normal esse pensamento, é super normal essa reação a qualquer pessoa. Quem está no luto não percebe o quanto ela faz outras pessoas à sua volta, do seu convívio, sofrerem, mesmo entendendo a situação pela qual está passando.

Nesses dois anos, intermináveis dois anos, o luto é absoluto, pleno, e cerrado, não permitindo que nada de alegria, nada de legal, nada de engraçado, festejo algum, ninguém entre para tentar, sem chance alguma, tirar a pessoa daquela profunda tristeza e da imersão naqueles pensamentos onde só pairam os da pessoa que se foi. Como punição por ainda continuar vivendo. Com pena de si mesmo. Como auto flagelo pela culpa de amar demais.

Quanto mais anos de vida vamos tendo, por mais situações de luto vamos passando, porque essa é a tendência da vida – morrer. E até isso ajuda a criarmos uma casca que nos faz seguir adiante, pois tomamos consciência de que devemos continuar. As amarguras do luto não devem prevalecer sobre as alegrias de nossas vidas. Sei que o sorriso não será mais escancarado e livre como era; sei que as palavras soltas e o falar pelos cotovelos vai passar a ser comedido; sei que o olhar vivaz e perscrutador vai se tornar um olhar que não tem vontade de ver mais nada, apenas enxergar. Mas com o tempo as coisas vão se amenizando,- não acabando, amenizando-, tornando-se mais possíveis, mais permissíveis e a vida social voltando paulatinamente ao seu, não normal, mas quase ao normal. Jamais como era antes, mas se permitindo voltar a viver uma vida que todos nós merecemos viver, afinal de contas, estamos ainda aqui e um dia alguém vai ficar de luto por nós.

Eu não quero que façam e sintam luto quando eu morrer. Quero que continuem pensando e agindo como se eu ainda estivesse por aqui, porém longe, impossibilitando me ver, talvez numa viagem – sem pensar que a morte seja essa viagem – mas numa viagem pelo universo, porque é assim que estarei, viajando pelo universo, pelo cosmos, pelas galáxias, pois, afinal, foi o que eu sempre fiz, viajar na maionese, na mostarda, no catchup. Não quero tristeza, não quero choros nem homenagens, peço apenas que não esqueçam jamais de mim, mas quando lembrarem que deem risadas do meu jeito ridículo e sem padrão algum; quando lembrarem que seja das minhas maluquices que sempre disse e fiz, do meu jeito de pensar e não tentem copiar porque não sou referência e muito menos padrão para qualquer coisa que seja; e jamais serei para nada nem ninguém. Quero que lembrem do auto astral que sempre tive, sem jamais deixar a peteca cair, sem jamais deixar a tristeza tomar conta de mim. Quero que lembrem que nunca deixei a maldade tomar conta do meu ser, sendo considerado até tolo diante dos pensamentos das pessoas. O que mais quero é que sejam felizes assim como sou e sempre procurei ser. Não quero que façam luto por mim, mas lutem por seguirem numa vida melhor dia a cada dia.

(JFM-10/10/2023)

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