CRÔNICA
Hoje não vou escrever, vou enviar um texto, uma crônica, que escrevi no dia 27/09/1982, que eu gosto muito e espero que gostem, pois é fruto da mais pura e louca imaginação.
JAMAIS O ESQUECEREI
Minhas mãos o prendiam firmemente, impossibilitando-o de
seguir seu caminho ao qual almejava, pois já tinha cumprido sua missão.
Ele saltitava, revolvia-se loucamente, preso em meus dedos
firmes que não o queriam soltar. Sua insistência louca fazia-me tentado a larga-lo
para ver sua reação e deixa-lo seguir seu rumo; mas eu queria ainda vê-lo um
pouco mais e conhece-lo melhor, ler em seu rosto ruborizado tudo o que podia
para ter plenos conhecimentos de si.
Assim fiquei alguns minutos, e ele sem parar, revolvendo-se
em minhas mãos estáticas, endurecidas, que o vento de um inverno que se fazia
rigoroso, cortava cruelmente pedindo e até mesmo clamando para que soltasse
quem mantinha aprisionado.
Olhei para ele e senti pena por sua ânsia de liberdade e
então decidi soltá-lo, mesmo que nunca mais o teria nas mãos e nem mesmo na
frente dos meus olhos -teria, logicamente outros tantos iguais a ele mas jamais
o mesmo.
Lancei meu olhar para baixo, e o vento veio louco, e
imediatamente afrouxei meus dedos, minhas mãos se abriram e a lufada de vento
frio o levou, leve como é, para o alto e assim caindo aos poucos bailando,
fazendo piruetas, malabarismos, revelando-se um verdadeiro acróbata, em outros
momentos um perfeito dançarino que se deixa levar pelas notas da música que o
vento sibila; e assim vai ele, subindo e descendo pela escada do vento,
conforme o impulso que a lufada lhe dava.
E eu ainda o via, observando, admirado, cada detalhe, seus
mínimos movimentos, e até com inveja por vê-lo alegre, solto passando por entre
as pessoas, sempre rápido, indo intrometer-se nos carros que voavam apressadamente,
mas nada o impedia de seguir seu caminho.
Ele continuava a saltitar, loucamente até que eu o perdi de
vista e o último movimento dele que eu vi foi quando chocou-se na parede do
hotel, permanecendo parado, estático, inerte, por alguns instantes, e imaginei
que sua caminhada foi curta e dali não sairia nunca mais, até que alguém o
juntasse e o levasse para o lixo, mas o vento veio novamente forte e o impeliu
a voar alegremente desaparecendo de minha vista, sem nem me dar adeus, para
nunca mais tornar a vê-lo. Uma tristeza tomou conta de mim, mas, assim é a
vida...
Voltei à realidade e vi que ele não passava de um simples
PAPEL DE BALA ‘SETE BELO’ SABOR FRAMBOESA, que eu havia comido com muito gosto
e o havia atirado da janela do 5º andar do edifício onde trabalho, e me deu
inspiração para escrever sobre ele, pois assim jamais o esqueceria.
(texto escrito em 27/09/82)
Fiquei esperando um final triste e nostálgico kkkkkk
ResponderExcluirEssa é a intenção da crônica.
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