CHORAR
Sentei agora para escrever sobre a chuva que voltou a cair forte, intensa e, provavelmente, vai se manter por mais um longo período, fazendo mais aguaceiros nas cidades e colocando pessoas em perigo e desabrigadas - é a natureza se rebelando contra os abusos dos homens-; mas, antes de escrever sempre dou uma passada nos títulos dos textos (artigos) que escreví, pois já são muitos - esse é o de número 189 - e eis que já escreví sobre a chuva e, assim que vi o título, nem abri para lê-lo, simplesmente, imediatamente, me veio à mente a palavra chorar, pois, como sempre faço, fiz uma analogia entre a chuva e o choro, entre chover e chorar e vieram à minha mente diversas ramificações, inúmeras ideias que poderia escrever sobre chorar tendo a chuva como pano de fundo, tendo a chuva como inspiração e principalmente como trilha sonora, com a melodia dos pingos graúdos e intensos incidindo sobre o telhado, e a emoção profunda que esse som me proporciona me dá uma vontade tremenda de chorar, mas não são lágrimas de tristeza, talvez melancolia - sim, por ser a chuva, como está sendo enviada para nós, um castigo de Deus por estarmos destruindo a bela natureza que Ele nos deu, e assim seu choro convulsivo cai em nós como torrentes de chuva que inundam as terras, destruindo-as e a tudo que nela está e levando quem nela vive, sob forma de mostrar às pessoas o quão estão ignorando as coisas boas que Ele nos deu.
As pessoas choram pela destruição de seus bens, muitos e acredito que a maioria, sem culpa alguma, mas que servirão de modelo, servirão de exemplo para mostrar a tantas outras pessoas o quanto precisamos mudar a nossa maneira de explorar a terra, explorar todos os recursos naturais que temos à nossa disposição, mas poucos os que realmente se importam com preservação, com cuidados, vão simplesmente destruindo pela ganância de ter cada vez mais, não importando o choro das pessoas, que serão atingidas de alguma forma, que poderão ser responsáveis; não importando o quanto de choro poderiam evitar se pensassem mais com a razão de um ser humano e não com a ganância e a vontade voraz de aumentar cada vez mais suas posses, nem pensando o mal que poderão estar causando. o egoísmo cada vez mais latente. O altruísmo cada vez mais decadente.
Chorar faz bem porque nos alivia de dores físicas, nos alivia de sentimentos causados por dores espirituais, por dores da alma, nos proporcionando momentos de extrema sensação de conforto, de leveza, pois é o espirito que está leve e bailando com os anjos ao som de uma cítara com acordes delicados e apaziguadores. Chorar faz bem quando nos vem à mente qualquer sentimento que estimula nossos hormônios e nos faz expelir, muitas vezes sem percebermos, rios de lágrimas. Essas lágrimas vêm com tamanha profusão, dependendo do momento que estamos vivendo, dependendo das cenas que estamos vivenciando, na vida real, num filme, numa leitura. O momento é único e especial para cada pessoa: Eu posso estar derramando litros de lágrimas ao ler uma passagem triste de algum livro e outra pessoa está lendo a mesma coisa e nada sentir, ou até sente, mas não expressa como eu estou expressando através do choro. Eu posso escutar uma piada muitíssimo engraçada e, de tanto rir, chorar convulsivamente, e terem pessoas junto a mim que escutaram também a mesma piada e não tiveram a mesma reação.
Chorar é um momento muito específico, muito particular de cada pessoa. Tem pessoas que choram por estarem sentindo algo, um choro de alegria ou de tristeza; mas tem pessoas que choram para demonstrarem que estão sentindo algo que na verdade não está. São pessoas dissimuladas, enganadoras, falsas que até chorar conseguem para conseguirem se mostrar como sentimental, mas na verdade são pessoas teatrais, pessoas que vivem enganando a si mesmas na tentativa de enganar aos outros para levar alguma vantagem.
Chorar faz bem, pois lava a vitrine da alma. A primeira vez que escutei alguém, que não lembro quem foi, citar essa frase me chamou a atenção e fiquei, como sempre fico, matutando no sentido de cada palavra e no sentido geral da frase e percebi o quão forte ela é, o quão significativa é a frase demonstrando o quanto é necessário chorar, um choro verdadeiro, que vêm lá do fundo dos nossos sentimentos. Interpretando a frase eu cheguei à conclusão - minha conclusão - que quando estamos a chorar, as lágrimas que brotam de nossos olhos lavam, limpam nossos olhos, que são nossas vitrines, são nossas janelas, que enxergam de outra forma, com outros sentimentos aquilo, qualquer coisa que seja que nos motivou a chorar, pois tirou de dentro de nós todo e qualquer pensar sobre algo claro ou sombrio, alegre ou triste, simplesmente nos elucidando as situações daquele momento e nos fazendo aliviar a tensão e nos deixando mais aptos a entendermos e assimilarmos melhor o que está acontecendo. Assim é o lavar da alma. Não adianta fecharmos as janelas para não vermos o que não queremos ver, mas lá por dentro continuamos a ver. Não adianta enfeitarmos nossa vitrine se a expressão que ela passa não disfarça o real sentimento.
Chorar de tristeza e chorar de alegria são iguais, porque o resultado é igual, é o mesmo em ambas as situações por estarem aliviando algo que está dentro de nós, além de estarem acionando as mesmas substâncias. Eu choro por qualquer coisa, meus sentimentos são à flor da pele e os deixo fluírem, não importa onde esteja, porque conter o choro não faz bem, porque estamos contendo algo que quer sair de dentro de nós, que quer nos aliviar.
Chorar nos faz bem porque conseguimos eliminar todo e qualquer sentimento, bom ou ruim, e observem, que após o choro, nossa fisionomia muda, se transforma, com resquícios de olhos vermelhos e empapuçados, nariz escorrendo ou trancado, boca caída e retraída, mas tudo isso logo passa e vai esvanecendo deixando lugar a uma expressão da mais pura tranquilidade e bem estar, assim como nossos olhos expressam tudo aquilo que passamos a sentir pós choro. Experimentem perceber isso, observem como é, se nunca lhes passou pelo pensamento sobre isso. Então, chore bastante, de alegria ou de tristeza, sempre que for preciso, sempre que for o momento, não tenha vergonha de expressar seus sentimentos. Lembre-se: depois da tempestade vem a bonança.
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