CANTAR
Ontem, lavando a louça do almoço e escutando rádio, como sempre faço, e cantando junto para sentir mais a música que está tocando e também para passar o tempo mais rápido e não me dar conta do que tenho a lavar, principalmente panelas – deveriam ser tudo descartáveis – então me veio a ideia de escrever sobre CANTAR – já escrevi sobre MÚSICA e até dei umas pinceladas em cantar, mas o meu foco foi no que a música representa para nós quando a ouvimos, seja instrumental apenas ou cantada, como a maioria, mas sempre tem um acompanhamento de algum instrumento, mas agora ao escrever sobre cantar quero expressar meus pensamentos sobre o que esse ato de soltar a voz nos faz sentir, nos faz pensar, nos faz ser, nos faz fazer.
Começando pelo que penso sobre o que é cantar: é um ato de
soltar a voz, emitir sons com palavras melódicas, que nos remetem a algo, a
alguém, a algum lugar, a alguma época nos transformando e nos fazendo flutuar
nos pensamentos, ludibriados pela melodia – que nem sempre temos, eu não tenho,
mas estou sempre cantando, não importa se gostam ou não gostam, eu canto porque
ao cantar, seja lá o que for, nem precisa ser exatamente alguma música
conhecida, mas simplesmente cantarolar, emitindo um som expandindo os pulmões e
assim a respiração se abre e explode numa profusão de emoções que me elevam a
lugares e sentimentos momentâneos, não etéreos, porque sei estar ali, sem
perder a noção de tempo nem de espaço nem mesmo do que estou fazendo – que nos
conduz, sem percebermos e sem perdermos os sentidos no que fazemos, mas
simplesmente soltamos a voz e cantamos a plenos pulmões e ainda fazendo
firulas, destonando, desafinando, sem ritmo algum, mas o que importa pensarmos
em tudo isso? Aliás, no momento que estamos cantando nem ligamos para nada,
simplesmente queremos nos envolver no que a letra nos diz, representa e as
melodias nos tocam, porque os instrumentos são responsáveis pelo sentimento que
vamos expressar, em consonância com a letra que foi escrita num momento poético
de quem a compôs para tocar as pessoas que a escutasse e sentisse o mesmo que
ela ao escrevê-la, ao compô-la.
O ato de soltar a voz nos faz sentir alegria quando lembramos
de situações que aquela música estava tocando e essa recordação traz alegria ao
coração, traz alegria de ter vivido intensamente o que a música está nos dizendo,
porque é isso que a música faz, elas nos remete a momentos que não queremos
esquecer; nos faz sentir tristeza por não ter mais como vivenciar aqueles
momentos; nos faz sentir nostalgia por tempos passados; nos faz sentir saudade
de algo ou alguém – mais de alguém.
O ato de soltar a voz nos faz pensar, como um filme de horas
e horas que não cansamos em assistir e reassistir e voltar a ver porque nos
conduz a vários e diversos sentimentos, e o pensamento flutua numa nuvem como
se fosse algodão doce ao mesmo tempo que pode ser uma nuvem carregada de raios
e trovões que nos sacodem num tremor de pensamentos desagradáveis, mas que rapidamente
são contornados e nos elucidam para o momento de saber que passou e tudo passa,
ficando apenas os acordes de uma música que cantamos pensando ser apenas uma
música e não nos deixando influenciar e muito menos envolver por ela, a não ser
para nos dar paz e alegrias.
O ato de soltar a voz nos faz ser uma pessoa mais sensível,
mais tocada por sentimentos variados que
nos envolvem numa magia
incontrolável conforme a melodia, conforme a letra e assim nos conduzindo a uma
explosão de sensações quase sempre maravilhosas, mas também nem tanto, mas no
momento o que importa é nos entregarmos e sermos apenas nós em nossos
pensamentos, em nosso íntimo pensar sem deixarmos de sair da nossa realidade
que vivemos agora.
O ato de soltar a voz nos faz fazer coisas que nem
percebemos, como dançar embalados pela eloquência que a melodia e a letra nos
traz; como requebrar mesmo que tenha alguém vendo e não seja nada interessante,
mas o que importa é sentir e se deixar levar; como fazer caras e bocas expressando
tudo o que aquela música nos representa, não pensando no ridículo que podemos
estar passando diante aos olhos de pessoas que não sentem o que nós naquele
momento, pois não foram tocados como nós fomos tocados, ao retinir das melodias
contagiando e invadindo nosso cérebro e pairando em recônditos inimagináveis
por quem quer que seja, a não ser por nós mesmos.
Essas são as reações que temos, e todos nós, sem exceção, não
existe pessoa que não reaja, que não tenha alguma recordação, que não lembre de
algo, de algum momento, que não lembre de alguém quando alguma música, com uma
determinada melodia e uma letra e uma tal voz começa a ser tocada e não acabe
sendo tocado também. É isso que a música faz: nos faz contar e pensarmos que
somos cantores de nós mesmos, para nós mesmos e assim nos aliviamos e até os
pensamentos e sentimentos ruins vão embora deixando apenas a paz de espírito e
a vontade imensa de viver, e até mesmo os tons coloridos são mais intensos e
mais brilhantes.
Por isso tudo, vamos cantar? Vamos soltar a voz sempre, em
qualquer lugar por onde estejamos, mas vamos expandir nossos pulmões e mostrar ao
mundo, mostrar às pessoas o quão bem nos faz cantar.
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