XINGAR

Acabei de ver no Facebook a postagem de uma amiga que diz ... XINGAMENTO COM ELEGÂNCIA... e achei esse termo interessante e próprio para escrever sobre ele, porque o xingamento está no nosso cotidiano, seja para o que for ou para quem for, em um determinado momento do dia, por mais que sejamos tolerantes, pacientes e detentores de todos os adjetivos e quesitos para sermos uma pessoa melhor, sempre haveremos de tombar num xingamento por mixaria de algo que tenha acontecido - a fruta que estás comendo caiu por bobeira, a bebida que estás bebendo derramou por um descuido, a ferramenta..., o utensílio..., a..., o..., a..., e assim vai, muitas coisinhas minúsculas acontecem - e lá estamos nós a xingar, não aquele xingamento terrível, de baixo calão de ofender, de agredir, mas um PUTA MERDA!, PUXA VIDA!, AH, NÃO!, QUE COISA! MAS, QUE DROGA! e assim são proferidos inúmeros e muitos impublicáveis embora muito usuais. Todos proferidos com exclamação por serem acontecimentos inesperados, rápidos que não conseguimos conter e por isso vem o impropério proferido, não contra alguém, não contra nós mesmos, não contra o algo motivador do xingamento, mas simplesmente pela ocasião, como forma de protesto, como forma de desculpa, como forma de descargo de algo negativo. Esses xingamentos solitários nos aliviam e nos tiram o sentimento de culpa. Os xingamentos muitas vezes, dependendo do grau de sofrimento, dependendo da intensidade da raiva, dependendo do grau de nervosismo e tantos outros gatilhos impulsionadores, são proferidos em série numa profusão de palavras mal ditas, sem raciocinar, sem pensar, sem se dar conta que as soltou ao vento, mas saem do nada e alcançam o nada, porque foram ditas ao nada e para nada, a não ser se aliviar -. O XINGAR é passível até  de processo, dependendo do tipo de xingamento proferido, dependendo do local onde foi proferido, em direção a quem foi proferido, como foi dito e como foi recebido e entendido é considerado INJÚRIA, e mesmo que não tenha sido uma injúria passa a ser porque assim a outra pessoa se aproveita da situação. Nesses casos estou me referindo aos xingamentos de pessoas para pessoas. Só podia ser, porque nenhuma espécie é capaz de se ofender, é capaz de se sentir vitimizado, de se sentir inferiorizado e querer se aproveitar da situação para se dar bem, e muitas vezes, já vi isso acontecer, se aproveitar de xingamentos que não eram para a pessoa e se apossar dos mesmos para levar vantagem - a que ponto os seres ditos humanos chegaram. Ao xingarmos um cachorro que roeu o sapato ou o tênis deixado à porta ele recolhe o rabo entre as pernas, murcha as orelhas e te olha com aquele olhar de desentendido como se dissesse EU SÓ SENTI TEU CHEIRO E QUIS TE FAZER UMA HOMENAGEM, e logo já está tudo bem entre eles; ao xingarmos um gato que te arranhou numa forma estranha de demonstrar que te pertence que te ama, ele sai correndo e some por um tempo, mas depois volta como se nada tivesse acontecido e se enrosca nas tuas pernas; mas nós animais ditos racionais não levamos desaforos, xingamentos pra casa, temos que revidar, temos que mostrar quem somos. Mostrar o quê? Ninguém precisa mostrar nada a ninguém, temos que ter consciência do que somos e nada de desafiar quem seja que nos tenha dito ou feito alguma coisa. Ignorar, nos fazermos de desentendidos, nos fazermos de surdos, isso sim é mostrar elegância, inteligência e acima de tudo educação. Revidar com mais xingamentos não ajuda em nada, muito pelo contrário acirra os ânimos e da ênfase para o que o outro que xingou quer - furdunço, bagunça, baixaria. Certa vez, quando tinha entre 10 e 13 anos, jogando futebol na rua, ainda sem calçamento, ao tirar a bola de um dos amigos ele se irritou e me chamou de filho da puta e veio pra cima de mim, eu nem dei bola pra ele, e os colegas todos vieram tomar satisfação se eu ia deixá-lo falar aquilo da minha mãe. Eu simplesmente peguei a bola e disse: Eu não vou fazer nada porque minha mãe não é isso que ele está dizendo, então pra que brigar? E saí jogando, e pronto, acabou a confusão, e nunca mais disseram e nem me provocaram em nada, porque sabiam que iria reagir dessa forma, e assim foi minha vida toda, a menos em casos de injustiças, daí sim, mesmo que não seja comigo eu meto o bedelho e tomo as dores, seja lá do que for, e às vezes até xingando, mas como dizia na postagem, com elegância e garbo, sem nada de baixaria apenas tentando conscientizar a outra pessoa sobre a situação e tentar contornar sempre para o bem para a paz e a integridade de todos. Quando escrevi que todos nós no dia a dia proferimos xingamentos, eu estou certo ou estou errado? Quem não?

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