SILÊNCIO
SILÊNCIO
Silêncio é uma palavra
que tem vários significados, assim como todas as palavras, bem como várias
conotações, pois pode ser colocada e usada em diversas situações para
expressarmos, muitas vezes mais do que poderíamos expressar com palavras.
O silêncio pode ser uma
forma de protesto em situações que não se quer falar nada, ou que as palavras
não vão adiantar, não vão ajudar em nada daquilo que queiramos expressar,
porque quem vai escutá-las não terá o alcance e nem a atenção necessária para
tanto, então, a melhor atitude é calar e deixar o silêncio invadir a situação,
tomar conta e dizer, mesmo sem palavra alguma, tudo aquilo que é passível de compreensão
e entendimento, dependendo de quem está participando, vendo a cena com aquele
mutismo falante, um silêncio estonteante e ensurdecedor.
O silêncio será maior
ainda se conseguirmos realiza-lo com os olhos fechados. Mesmo de boca fechada,
sem emitir um som que seja, um sussurro, um grunhido, nada, mas os olhos podem
falar tudo o que a boca não está dizendo e assim trair-nos mesmo sem traição
alguma. O melhor, se não quisermos expressar nada mesmo, num protesto de total
silêncio, é cerrar os olhos, deixá-los fechados para que não possam perceber o
que eles querem dizer, o que eles estão sentindo, o que eles expressam e assim
reforçar o silêncio das palavras.
Com o recurso do
silêncio das palavras e com o silêncio do olhar, não há como interpretar ou
conjecturar ou imaginar o que a outra pessoas está querendo dizer, podemos deduzir
que seja um protesto, mas que protesto é este? Por que está sendo feito dessa
maneira, se poderia gritar, berrar, proliferar milhões de palavras para que
todos os presentes pudessem ouvir de seus sentimentos, de seus pensamentos, de
seus devaneios? Não existe outra resposta melhor do que o silêncio. Não há
palavra, nem profusão de palavras que possam substituir o silêncio absoluto. As
palavras podem ser mal interpretadas, e o são quase sempre, tanto por quererem
interpretar da sua maneira, como por falta de entendimento e capacidade de uma
melhor interpretação – a falta de capacidade cognitiva que assola as pessoas
hoje em dia.
O silêncio da vida
acontece quando morremos, pois tudo cala, tudo ensurdece, tudo fica inanimado e
nada mais importa. Durante o período que estamos em vida, passamos por várias
situações de silêncio, mesmo não percebendo, mesmo não tendo parado de falar,
mas o silêncio do nosso interior, aquele silêncio que fica martelando pois
queremos dizer algo, queremos gritar, queremos nos expressar mas o silêncio nos
invade e assim levamos todo esse tempo apenas querendo mas nunca realizando, por
ética, por estarmos em uma sociedade, por estarmos rodeados de pessoas como
nós, porém não pensam e nem agem como nós. Esse silêncio nos invade e toma
conta de nosso ser, nos tirando a coragem, nos oprimindo de iniciativa e nós
aceitando e levando a vida achando, pensando que é normal. Mas não é. O normal
é falarmos, gritarmos, reivindicarmos, exigirmos e nos mostrarmos como pessoas
dignas de respeito que todos nós somos. A reivindicação e tudo o mais podem ser
expressos na forma de total e absoluto silêncio, basta nos prostrarmos diante a
situação e nos entregarmos para que o que tiver que ser será. Desde que não nos
machuque e não nos fique incomodando com pensamentos inadequados, opressivos e
deprimentes.
Cada vez está mais difícil
de nos mantermos em silêncio. Nós até podemos ficar em silêncio da fala e dos
olhos, mas os ouvidos estão em constante contato com sons diversos, impossíveis
de serem ignorados e sentidos. São os sons da própria natureza: Pássaros que
querem se expressar, querem cantar, querem se mostrar como são livres, leves e
soltos e até causam certa inveja e correm perigo; Chuva que pode vir mansa,
calma, branda e nos faz apaziguados, nos alivia de todas as formas, mas pode
ser aquela tempestade bravia, intensa que arrasta a tudo e a todos, nos
mostrando seu poder e sua revolta e não quer se calar, quer que a escutemos e a
temamos, mas mesmo assim, continuamos a fazer coisas que a faz voltar cada vez
mais revoltada, emitindo raios brilhantes barulhentos e horrendos depois de um
embrulho das nuvens carregadas de raiva e entorpecidas pelo ódio com trovões
ensurdecedores e amedrontadores. Assim é a natureza, nos dá coisas leves, lindas,
esplendorosas, mas também nos oferece e nos manda aquilo que não pedimos mas
merecemos por não sabermos aproveitar da maneira correta.
Fora os sons da
natureza, que até não incomodam, digo até que acalantam nosso ser, temos os
sons que o próprio homem foi criando à medida que foi se desenvolvendo e o
progresso foi se instalando em suas vidas: cada vez mais tecnologia, com
aparelhos e mais aparelhos, que para funcionar é barulhenta e tantas coisas
mais que poderia citar e ficar divagando. São coisas maravilhosas, super úteis,
digo até, necessárias, as quais precisamos, porque queremos precisar, mas há controvérsias.
O interessante, é que as pessoas toleram mais os barulhentos criados pelos
homens, ou seja artificiais, do que os sons da natureza, por isso a destroem.
Por mais que queiramos
ficar no mais absoluto silêncio não conseguimos, somente tendo um dom
espiritual tão forte que nos faça sair, descolar do nosso mundo, do nosso
habitat e nos levar a outra dimensão – eu conseguia fazer isso quando era mais
jovem, hoje já está mais difícil, mas ainda consigo, mesmo que por segundos,
consigo me abster de qualquer som de qualquer imagem mesmo sem fechar os olhos.
É até estranho e perturbador fazer isso, mas do nada acontece, e o resultado é
bom demais, me dá uma tranquilidade, uma paz imensa de estar comigo mesmo. E
tu, querido amigo e querida amiga, consegues ficar no teu total silêncio para
pensares mais em tudo, e na vida? Ou não precisa disso?
Comentários
Postar um comentário