DECOREBA
DECOREBA
Essa palavra veio à
minha mente várias vezes para escrever sobre ela, mas hoje chegou a sua vez,
porque escutei, nem quis ver, um vídeo de uma pessoa perguntando para outras “Quais
são as 6 vogais da Língua Portuguesa”, e as pessoas respondiam coisas absurdas,
teve uma que até conseguiu acertar e disse “a,e,i,o,u, mas e qual é a outra?”
então comentamos sobre a desinformação das pessoas, como não sabem coisas tão
básicas que se aprende -opa, aprende? - na escola desde sempre e não lembram,
foi quando eu disse que isso é culpa dos professores que forçam, que induzem os
alunos a decorarem as matérias, os conteúdos que lhes foram ministrados para no
dia da prova conseguirem tirar uma nota boa, acima da média e passarem direto,
sem fazer exame – na minha época era chamado de exame - ou recuperação, nos
dias de hoje. Que nada mais é, mais uma ou duas ou três chances, até conseguir
passar para o ano, para o ciclo, para a série seguinte, para aqueles que não
conseguiram decorar a matéria que caiu na prova – outro absurdo também é isso,
como saber o que vai cair na prova? Pra quê prova? Ninguém tem que provar nada
a ninguém, apenas a si mesmo e no momento que for mostrar, numa necessidade,
que seja uma entrevista de emprego, no trabalho – se é que conseguiu.
Os estudantes não
aprendem o conteúdo, o que eles fazem é decorar para conseguir responder o que
cair na prova e assim passar para a nova etapa, não importando se sabe ou não,
e nem lhe é exigido demonstrar que sabe, porque, infelizmente os professores
não cobram e nem querem saber se realmente sabe ou não, desde que o resultado
seja mostrado na tal maldita prova – eu digo maldita porque sempre me
atemorizou essa tal prova, pois eu aprendia e não decorava, mas do meu jeito, e
chegava na prova as professoras, de modo geral queriam respostas fidedignas do
que haviam dado, ou seja, decoreba danada, por isso, quando me tornei professor
de cursos técnicos, formava profissionais para o mercado de trabalho, me
preocupava em orientá-los para o aprendizado do conteúdo e não para a decoreba.
Foi difícil trabalhar assim, pois todos, em geral, e olha que dei aula em
vários lugares, tanto em cidades quanto escolas diferentes, mas todos aplicavam
o que sempre lhes cobraram: a decoreba, salvo algumas, raríssimas exceções, que
queriam aprender, e eu valorizava esse esforço. Muitas vezes tiravam notas
menores, assim como acontecia comigo, pois eu primava por aprender e não
decorar, mas os professores não estavam nem aí pra mim, mas nunca me importei
se davam ou não, o que importava é que eu sabia, e jamais esqueceria o que
havia aprendido, porque aprender é isso, é levar para o resto da vida, é
lembrar, não necessariamente tudo – deixa isso para a decoreba, como eu digo e
sempre disse: decorar é para hoje e amanhã, talvez depois de amanhã, pois a
informação se apaga, ela não fica na mente, não fica gravada na memória. Eu
ensinava, orientava meu alunos as maneiras de gravarem os conteúdos, através de
associações, com palavras, com situações, com fatos, com pessoas, com qualquer
coisa que fosse, e assim acionaria o gatilho toda vez que surgisse algo sobre o
tal assunto. Esses que aprendiam e tiravam notas menores eu valorizava
considerando o que eles disseram como aprenderam e lhes dava mais
oportunidades. O que as pessoas precisam é de oportunidade, que lhes abram as asas
do conhecimento e do aprendizado e não que lhes cortem as asas.
Meu filho menor estava
na sexta série do ensino fundamental quando teria uma prova de biologia, e ele
precisava de uma nota alta porque durante o ano eram sofríveis – nunca cobrei
nem exigi dos meus filhos notas altas, até porque, nunca fui um aluno de notas
altas, ficava no suficiente para passar, mas sabendo de tudo, mas nem sempre o
que as professoras e professores pediam na prova, ou não como eles queriam que
colocassem, e eu sempre tive o meu jeito de me expressar e de mostrar o meu
conhecimento, e era considerado incompleto, ganhando meio acerto, mas não
ligava, o que importava é que eu sabia -. Biologia era a matéria que ele mais
gostava, e isso é contraditório, porque conversava com ele sobre os conteúdos e
ele demonstrava saber, então o ajudei na véspera da prova, tomei a matéria com
ele, ele sabia tudo, e uma das coisas que eu o orientei é que escrevesse o que
ele sabia e não decorasse. Pois bem, quando terminou a prova, ele me disse que
tinha feito tudo e que sabia tudo. Mas, para decepção dele e indignação minha,
ele me chega, alguns dias depois, com a prova e nota 4. Fui ler as questões e
as respostas. Ele havia respondido tudo com as palavras dele, apenas uma que
realmente estava equivocada, não errada, e uma outra incompleta. Peguei a prova
e no outro dia fui lá na escola conversar com a professora – liguei para a
escola que eu dava aula e avisei que chegaria mais tarde. Meu filho não queria
que eu fosse porque seria pior, ela iria pegar no pé dele – coisa de
professores incompetentes, inseguros e tanta coisa mais -. Mas eu fui e mostrei
pra ela a prova e pedi pra ela me explicar porque errado uma por uma das
questões, e a questionei em cada uma o que ela entendeu o que ele tinha escrito,
e mostrei a ela que ele tinha colocado com as palavras dele o que ele entendeu
e ele estava certo. Ela ficou toda inquieta e pediu pra ficar com a prova. No
outro dia devolveu pra ele com a nota 8, e realmente só uma errada e outra meio
ponto. Aproveitei e falei pra ela que aquele método de copiar os capítulos do
livro no caderno e depois responder a um questionário, sem nenhuma intervenção,
explicação dela, não era a maneira certa de dar aula. Até nisso ela mudou
também. Ela sabia que eu era professor e conhecia minhas atividades em aula,
porque alguns alunos dela no Ensino Médio eram meus alunos no cursos de
capacitação que faziam na Microlins.
Os pais não tem que dar
razão para os filhos quando eles não tem, mas quando há uma dedicação e uma
injustiça de verdade, os pais devem intervir e questionar a metodologia e os
critérios do professor. Os professor tratam e consideram a turma toda igual,
enquanto que, sabemos, cada um é completamente diferente do outro. Não precisa
dar tratamento especial, mas saber das dificuldades e das necessidades de cada
um e ajudar a fortalecer. Isso é cabível e pode acontecer, basta ter boa
vontade ao exercer sua profissão que deveria ser digna e linda, mas não é para
tantos.
Eu tive várias ocasiões,
em momentos diferentes da minha vida de estudante, que desafiei os professores.
Alguns aceitaram e fizeram o que pedi outros mantiveram seu ar de altivez e superioridade
e mantiveram a mediocridade nos métodos de conduzir uma aula e realizar uma
prova. Numa das ocasiões, no Segundo Grau (hoje Ensino Médio) a professora
Olinda de Português deu a primeira prova do bimestre toda objetiva, ou como eu
digo, de cruzinha. Sempre detestei prova de cruzinha, prefiro dissertativa ou
outro método, menos marcar a correta. Eu fui o último a receber a prova pois
era a nota mais baixa da turma, e o pior é que eu ensinava meus colegas, tirei
3,5. Então a desafiei a fazer uma outra prova com perguntas de escrever, bem
assim falei, ainda não sabia que era dissertativa ou discursiva. Pois bem, ela
aceitou, pois sabia do meu potencial. E o desafio que dei a ela foi que se eu
não tirasse a nota mais alta da aula eu poderia ficar com os 3,5. E eis que ao
entregar a nova prova, a primeira a ser entregue foi a minha 8,5, e as dos
colegas todas abaixo de 6, sendo a maioria menos de 5. Então ela, sensata e
professora especial como era, fez a média para os outros e pra mim deixou o 8,5.
A partir dali eu comecei a dar todos os textos que escrevia para ela ler, e ela
os aproveitava em outros colégios que dava aula de literatura. Um outro
professor foi o de Economia e Mercado da Faculdade de Administração. Prova
objetiva também, e de 10 perguntas acertei apenas 2. Fiz o mesmo desafio e ele
aceitou, na próxima prova fez objetiva mas com justificativa. E eu tirei 7,
acertei todas, mas não as cruzinhas, apenas as justificativas, porque ele disse
que eu argumentava muito bem.
Fiz esses comentários
para mostrar como os professores devem ter essa sensibilidade de avaliar o
aluno pelo desenvolvimento em aula, sua participação, seus gestos, suas argumentações,
seus trabalhos realizados. Conhecer o aluno. E dá para conhecer, basta fazer da
profissão como uma missão, como eu fiz, e assim cumpri-la como deve ser mesmo. Para
avaliar não tem que fazer prova, basta conhecer o aluno no desempenho e
interesse em sala de aula e na realização das atividades. É mais difícil? Com
certeza, mas não tanto que não seja possível. Preferem a maldita decoreba. É mais
confortável. Mas não é a melhor para as pessoas que estão em busca do
conhecimento, do aprendizado, do desenvolvimento da inteligência, da
intelectualidade.
Decoreba é para hoje,
amanhã e talvez, talvez depois de amanhã. Depois disso, se apaga, pode ficar
algum resquício, mas muito difícil que fique, pois o cérebro, a memória não foi
acionada, apenas a memória volátil, assim como tem as dos computadores que são
momentâneas e se dissipam chamam-na de RAM eu chamo de Perereca, porque pulam e
coaxam bem longe.
Decoreba é para aqueles
que não querem usar o cérebro. Decoreba é para quem não quer pensar, para
pessoas limitadas de capacidade cognitiva e intelectual.
Vamos parar com a
decoreba e vamos acionar a inteligência que todos nós temos e esquecemos de
usá-la? Vamos sair da zona de conforto e começar a ler mais, interpretar mais,
pensar mais? Faça isso, e verás que vais te surpreender com os resultados!
Depois de digam, quero saber!
(texto escrito em
11/11/2023)
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